Por Fernando Santos, em 21 de janeiro de 2024.
A música tem o poder de transportar-nos para um universo mágico. Essa magia acontece quando talentos especiais conseguem tocar nas teclas certas das nossas emoções. É o caso da pianista portuguesa Diana Botelho Vieira, natural de Ribeira Grande, Açores.
Diana vem tornando-se uma artista com talento reconhecido e cujo repertório eclético a levou a se apresentar em variados formatos e palcos globais. Com performances que vão desde recitais de piano solo e música de câmara até atuações como solista acompanhada por orquestras, Diana tem cativado audiências em países como Portugal, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos e diversos locais da América do Sul.
Sua carreira é marcada por distinções significativas, realçando-se o prestigiado Prémio Jovens Músicos - RDP Antena 2, na categoria de Piano, que coroa jovens talentos com promissora carreira musical. A artista também foi honrada com o Búzio Revelação pelo Expresso das 9, reconhecendo novos talentos nas suas áreas, e com o Prémio Cultura do Correio dos Açores, um aceno ao seu impacto significativo na cena cultural açoriana. Essas conquistas não são apenas um testemunho da sua habilidade excepcional ao piano, mas também da sua dedicação e paixão pela música que transcende fronteiras.
Conforme descreveu o escritor e crítico Robert McCarney, para o Classical Music Daily, em sua resenha sobre a performance de Diana, que apresentou o primeiro conjunto de peças de Janáček, intitulado "On An Overgrown Path", durante um concerto em 2022 em León, Espanha:
A sutileza rítmica em sua execução - algo que sempre imaginei ser muito difícil de acertar - foi excepcional, assim como seu controle da dinâmica em uma obra que varia de uma beleza silenciosa e dolorida a explosões estrondosas. Sua compreensão e concepção geral da peça foram maravilhosas e era evidente que se tratava de uma peça com a qual ela conviveu e amou por muito tempo.
Nesta entrevista exclusiva à ProART, concedida a Fernando Santos (FS), Diana revela detalhes de sua trajetória no universo da música erudita e os planos para o futuro. Confira!
FS: Diana, é um prazer enorme conhecê-la! A paixão pela música despertou desde cedo na sua vida? Conte-nos, como foi esse momento mágico?
Diana: O prazer é todo meu! A música surgiu durante os verões passados em casa dos avós maternos, que nos ensinaram algumas bases musicais. Pouco tempo depois, os mesmos avós ofereceram-nos um piano vertical Yamaha. A minha irmã mais velha foi quem começou no piano, e lembro-me vivamente do som do piano, algo que me encantou desde o primeiro momento. A minha irmã tocava, e eu, fascinada, sabia que queria fazer parte daquele mundo mágico. A música fluía naquela casa e, sem dúvida, no meu coração também.
FS: E essa paixão foi nutrida por alguma inspiração familiar ou algum ídolo em particular?
Diana: Sem dúvida que os meus avós foram a minha primeira grande inspiração, pois esse piano Yamaha foi o ponto de partida, mas a verdadeira chama foi acesa pelos professores dedicados do Conservatório Regional de Ponta Delgada. Eles reconheceram e incentivaram o meu amor pelo piano, o que foi essencial para mim.
FS: Ao longo da sua formação musical, quais compositores ou peças tiveram a maior influência no seu desenvolvimento artístico e porquê?
Diana: Durante a minha formação pianística enquanto aluna do Conservatório, tive a possibilidade de aprender repertório bastante diversificado, não havia um foco em nenhum compositor em particular, no que diz respeito ao repertório aprendido ao piano. Passava horas a ouvir as sonatas para piano de Schubert, As Canções de um Viandante, e as Sinfonias de Mahler, as Sinfonias de Tchaikovsky, toda a obra para piano e orquestra de Rachmaninov e Mozart, obras de música de câmara e, claro, muita música para piano solo. Mais tarde, no ensino superior, pode-se dizer que a música de Rachmaninov e Prokofiev marcou bastante essa fase dos meus estudos. Depois, em Chicago, durante o meu Mestrado, voltei à diversidade e, inclusive, abordei obras menos conhecidas de compositores como Aaron Copland e Charles Griffes, sempre em paralelo com o repertório canónico, claro. Foi onde se deu início pelo meu interesse ainda hoje por repertório menos conhecido. O meu desenvolvimento artístico é o resultado desta diversidade.
FS: Falando em desafios, qual foi o maior obstáculo que enfrentou até agora na sua carreira artística?
Diana: Tenho tido uma série de desafios, mas não creio que me tenha deparado com nenhum obstáculo. Para mim, o desafio está todo centrado na partitura, está lá tudo, desde o momento em que abro a primeira página, até ao momento em que entro em palco, existe um processo trabalhoso, de procura, de organização, de concentração… se pensarmos bem, o processo de preparação uma obra é algo extraordinário e artisticamente bastante complexo, e nunca termina, na realidade. Mas é o meu lugar favorito, estar sentada ao piano a desvendar tudo isso!
FS: E qual foi aquela primeira conquista que a fez sentir reconhecida no mundo da música?
Diana: Bem, gravações, concertos a solo com orquestra ou recitais - cada um desses marcos foi uma conquista significativa para mim. Não vejo o reconhecimento como um único evento, mas como uma jornada de momentos marcantes.
FS: Existe algum projecto ou performance que lhe traga um orgulho especial?
Diana: Sim, depois de me tornar mãe, decidi explorar mais o repertório para piano solo, o que me permitiu realizar vários conceitos de recitais que tinha em mente. Cada recital, conceito ou projecto realizado é uma fonte de muita alegria, especialmente porque reflectem uma parte do que sou e gosto de tocar.
FS: Diana, tem algum fato curioso sobre si que possa partilhar com o nosso público?
Diana: Algo que muitos não sabem é que uso aparelhos auditivos desde os 7 anos. Isso personalizou de maneira única o meu universo sonoro como pianista – é um aspeto da minha vida que moldou a minha relação com a música de forma muito pessoal.
FS: Além do piano, quais suas atividades de lazer preferidas?
Diana: Adoro estar ao ar livre, fazer caminhadas. E o sapateado é outra paixão que tive o prazer de explorar; gostaria muito de retomar essa prática no futuro. E adoro ler também.
FS: E quais suas expectativas para este ano que se inicia?
Diana: Continuar a trabalhar na concretização das minhas ideias. Conto apresentar um recital com música de Chopin e Schubert; tendo em conta o repertório que tenho apresentado em palco nos últimos anos, é uma novidade!
FS: Quais suas próximas apresentações?
Diana: O mês de fevereiro será dedicado a um novo conto musical de Sérgio Azevedo: O Cágado, a partir de um pequeno conto de Almada Negreiros com o mesmo título – serão duas apresentações em Paris e uma terceira em Loures, com a Susana Henriques na narração; será também o mês em que farei o meu primeiro recital de piano totalmente dedicado à música de mulheres compositoras portuguesas, o que me entusiasma bastante! Este será no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, inserido no Festival Prolíficas, em São Miguel.
FS: E para finalizar, o que espera alcançar nos próximos anos? Quais são os seus planos e sonhos?
Diana: Ah, a lista é longa! Tenho um caderninho cheio de ideias que vão desde recitais temáticos até projetos de música de câmara e obras para tocar com orquestra. Estou sempre a sonhar e a planear o próximo passo. Estou bastante entusiasmada com o que aí vem.
FS: Diana, foi um prazer imenso tê-la connosco para esta entrevista. Obrigado por partilhar aqui a sua história e paixão!
Diana: Muito obrigada eu. Até breve!
Quer saber mais? Veja e ouça abaixo uma de suas belas apresentações:
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