ProART Entrevista: Sílvia Sequeira - A emoção e a força de uma jovem soprano com uma voz "generosa"

Em 13/10/2023 por Fernando Santos

Emergindo como uma das sopranos mais promissoras de sua geração, a portuguesa Sílvia Sequeira está rapidamente ganhando reconhecimento no cenário da ópera. Possuidora de uma voz descrita como "generosa" e "a própria música", Silvia está atraindo atenção tanto por seu talento inquestionável quanto por sua paixão palpável pela música.

Nesta entrevista, Sequeira nos oferece uma janela para sua jornada artística, aprofundando-se em sua abordagem pessoal à música e revelando o significado profundo que a ópera tem para ela.

Depois de receber o prestigioso Prêmio Wagner em maio de 2023, Silvia foi convidada a dar um recital após a Assembleia Geral de Membros da Sociedade Wagner. 

"Vejo possibilidades para uma carreira como soprano dramática (Wagner) no futuro, mas depois de ouvir Puccini, Cilea e Massenet, penso que nós, como amantes da ópera, beneficiaríamos pelo menos tanto deste repertório italiano e francês". (Peter Franken, Place de l'Opera, Paises Baixos, 2023).

Sua interpretação de 'Dich teure Halle', a famosa ária com que Elisabeth inicia o segundo ato de Tannhäuser, não só lhe rendeu o Prêmio Wagner no International Vocal Competition (IVC) de 2023, mas também a levou à vitória no concurso de talentos MAX ARIA em novembro do mesmo ano. Este último triunfo lhe garantiu uma posição como 'artista associada' no National Opera Studio por um período de seis meses.

No Concurso Rainha Elisabeth, realizado no Bozar (Centro de Belas Artes de Bruxelas) em 2023, a crítica elogiou a performance de Silvia:

"Chega então o momento da soprano portuguesa Silvia Sequeira. A cantora transmite uma generosidade que a consagra como a verdadeira essência da música... Silvia Sequeira estava simplesmente radiante". (Marie Michiels, Radio Télévision Belge Francophone - RTBF, Bélgica, 2023).

A entrevista com Sílvia Sequeira , realizada por Fernando Santos (FS), permite-nos conhecer um pouco mais sobre esta jovem promessa para o mundo da ópera.

FS: Silvia, podemos começar pelo início? Conte-nos, quando é que surgiu o seu fascínio pela arte e como é que isso se manifestou na sua infância?

Sílvia: Desde pequena, eu já realizava apresentações para a minha família, usando uma revista como microfone. Cantava músicas que aprendia na creche, mas não se restringia a isso. Eu também adorava pintar e me envolver com artes plásticas.

FS: Certamente teve algumas influências ao longo do caminho. Quem foram as figuras que mais a inspiraram, seja na sua família ou ídolos que admirava?

Sílvia: Sem dúvida, o meu pai foi o principal incentivador da minha jornada musical. Eu ouvia-o tocar e estudar trompa durante toda a minha infância. A minha mãe, com o seu total apoio às minhas escolhas, também desempenhou um papel crucial, especialmente quando decidi deixar a trompa, o meu primeiro instrumento. Ela fez questão de me mostrar que abandonar a trompa não significava abandonar a música. Felizmente, após algum tempo, a minha professora de coro informou o meu pai de que eu possuía uma qualidade vocal que poderia ser benéfica de explorar. Então, decidi seguir este caminho.

"A música é a minha forma de expressar emoções e conectar-me com o público. Cada performance é uma oportunidade de compartilhar uma parte de mim."

FS: Na sua jornada como artista, inevitavelmente deve ter encontrado obstáculos. Poderia partilhar connosco alguns dos maiores desafios que enfrentou?

Sílvia: Sem sombra de dúvida, o primeiro grande desafio surgiu em 2016: o papel de Fiordiligi, na ópera "Così Fan Tutte", de W.A. Mozart. Realizei essa obra no contexto da Pós-graduação em Ópera e Estudos Teatrais da ESMAE. Lembro-me de, no primeiro ensaio com piano, pensar que não deveria ter aceito o desafio, pois é um papel bastante exigente. Mas eu me provei capaz de realizá-lo, e isso me ajudou a evoluir muito como cantora, musicista e profissional. Mudar-me para Maastricht durante a pandemia de Covid-19 também foi um desafio significativo, mas foi o que me trouxe até onde estou hoje.

FS: E em termos de conquistas, qual foi o momento em que sentiu que tinha tido o seu primeiro grande reconhecimento no mundo artístico?

Sílvia: A minha primeira grande conquista foi ter chegado à final do IVC na Holanda e ganho o prémio público e o prémio Wagner em 2022. Embora já tivesse ganho um prémio Wagner em Portugal em 2016, este teve um sabor diferente.

FS: Fale-nos sobre a sua experiência de mudar para a Holanda. Quais são as suas ocupações atuais e como tem sido a experiência cultural e artística lá?

Sílvia: A minha mudança para a Holanda foi bastante tumultuada. Apesar de ter conhecido a minha professora de canto, Yvonne Schiffelers, com quem estudei no Conservatório de Maastricht, em 2019, quando estava a me inscrever para os exames de admissão do Mestrado, fomos surpreendidos pela pandemia de Covid-19. Tive que fazer o exame em vídeo, a capella, com a câmara e o microfone do telemóvel. A falta de recursos em março de 2020 era imensa! Por já me conhecerem da ópera Zanetto, que realizei em 2019, acredito que isso influenciou na minha admissão. Os três meses seguintes foram os mais difíceis da minha vida. Com tudo fechado, completamente sozinha e com colegas de casa não muito simpáticos, trabalhei fora da música para pagar o meu mestrado. Viver num país diferente, com uma língua e cultura diferentes, foi um choque. Estou bastante orgulhosa da minha persistir.

"As críticas e elogios são importantes, mas o que realmente importa para mim é a conexão que consigo estabelecer com a audiência. Se eu puder tocar alguém com a minha música, então considero que alcancei o meu objetivo."

FS: Existe alguma actuação ou projecto que a marcou de forma particular?

Sílvia: Decerto, a minha participação no Queen Elizabeth Competition! Foi um dos concursos que mais gostei de fazer e que me permitiu superar-me. Diverti-me imenso em palco e posso dizer que foi uma das melhores experiências que já tive.

FS: Como artista, qual é a sua grande ambição?

Sílvia: Acima de tudo, a minha ambição é tocar o coração das pessoas, fazer com que elas saiam de um concerto a sentir-se de forma diferente. Quero que a minha música provoque sensações, reflexões e até mesmo ajude a superar momentos difíceis. Acredito no poder da música e quero usar a minha voz para isso.

FS: Que conselhos tem para os jovens artistas que estão agora a iniciar as suas carreiras?

Sílvia: Diria para não desistirem, mesmo que por vezes pareça extremamente difícil. Também considero muito importante estarem rodeados de pessoas de confiança, que os apoiam e incentivam. E, acima de tudo, é crucial que amem o que fazem, porque a carreira artística é muito exigente e, sem amor, é fácil perderem-se pelo caminho.

Quer saber mais? Veja e ouça abaixo algumas de suas belas apresentações: 


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